quinta-feira, 28 de maio de 2015

REUNIDOS EM TORNO DO SENHOR JESUS

1 Coríntios 14


Houve uma noite em que o Senhor Jesus reuniu em torno de si um grande número de pessoas. Na verdade, isso era frequente no seu ministério terreno, então, não haveria nada demais nisso, a não ser pelo fato de que essa noite foi especialmente diferente, porque essa é a noite em que Judas Iscariotes o traiu. Desde a prisão efetuada no Getsêmani, tendo compreendido que Jesus não reagiria, todos os seus companheiros o abandonaram. Então, completamente só, a reunião em torno de Cristo assumiu aspectos bem distintos do que Ele havia experimentado até ali. Jesus tinha muito prestígio e reunia multidões durante o dia, quando todos podiam vê-lo. Mas aquele grupo não queria que Seus admiradores vissem o que eles estavam prestes a realizar, e, por isso, orquestraram um plano perverso para ser executado na madrugada.
Muita gente se reuniu em torno de Jesus naquela noite, com o propósito de escarnecê-lo. Primeiro, o Sinédrio. Os líderes religiosos queriam vê-lo, mas não para adorá-lo; queriam acusá-lo falsamente, esbofeteá-lo, e demonstrar todo o seu desprezo. Encaminharam-no, então, a Pôncio Pilatos, que o interrogou. Ele também teve a sua oportunidade de estar com o Rei dos reis. Mas não reconheceu a Sua majestade. Enviou-o para Herodes, na corte de fanfarrões. Ali, o Senhor Jesus de novo foi alvo das zombarias. Foi desrespeitado, tratado como um louco varrido. Herodes pedia por um milagre como se quisesse assistir a um espetáculo, e tratou o Pai da Eternidade como a um bufão. Diante da recusa de servir de palhaço, Jesus foi enviado de volta a Pilatos, onde foi submetido à tortura pelos soldados romanos. Apanhou muito, foi chicoteado, chacoteado e achincalhado. Sortearam o seu manto. E já que aquele galileu se considerava o Rei dos judeus, tiveram o cuidado de confeccionar uma coroa de espinhos para encravá-la na cabeça dEle. Pilatos, então, reuniu no pátio externo do seu palácio uma pequena multidão, para apresentar o Cristo humilhado, surrado, e “coroado”! Como se não bastasse, os congregados clamaram pela crucificação. Pilatos não desperdiçou a oportunidade. Havia muita gente reunida ali para ver Jesus, e se era a cruz que eles queriam, então a cruz eles teriam. Como tanta gente, Pilatos, bom político que era, usou a morte de Cristo para seu benefício pessoal.
Diante de públicos distintos, em lugares diferentes, mas sempre uma assembleia cheia de gente curiosa e irreverente: zombeteiros e escarnecedores. Agora, na Via Crucis, caminhando ao lado do condenado, e, em seguida, reunidos em torno da cruz erguida, não para contemplá-la, mas para divertir-se. O Todo-Poderoso era desafiado e ofendido.
É notável, portanto, como é possível se realizar uma reunião em torno de Jesus, congregar pessoas no nome de Jesus, e mesmo assim, não oferecer a Ele a glória que Lhe é devida. Naquela noite, muita gente se aproximou do Senhor, mas não com o fim de se aquietarem aos pés do Mestre, e sim para assistir a um espetáculo de tortura, humilhação, zombaria, e assassinato.
Os cristãos também se reúnem em torno de Cristo! Não para isso, contudo! Ao contrário: reúnem-se para adorá-lo. Desde os eventos da crucificação, os discípulos aprenderam a fazer reuniões. Nos 40 dias em que o Senhor esteve entre eles, ressurreto, os discípulos ainda gozaram da sua companhia, inclusive, fisicamente. Reuniam-se por causa de Cristo, e na companhia de Cristo. Até que, na última reunião, registrada no capítulo 1 de Atos, Cristo, à vista dos discípulos, subiu ao céu entre as nuvens.
Mas as reuniões não cessaram. Agora, sem a presença física do Mestre, mas continuaram a se reunir por causa dEle. Assim como ensinou o Senhor, reuniam-se no nome de Cristo, em torno de Cristo, desfrutando, agora espiritualmente, da presença de Cristo. Segundo o Novo Testamento, passaram a se juntar no Domingo, o primeiro dia da semana, para celebrar a Ceia do Senhor e realizar o que nós chamamos de “culto”. É claro que quando alguém separa um tempo no seu quarto em secreto com o Pai, isso também é culto, mas quando falamos em culto público, referimo-nos aos momentos que se compartilha com outros crentes, sejam nas dependências da Igreja, nos pequenos grupos da Igreja, ou em cultos domésticos. O propósito central do culto é Cristo, a exaltação de Cristo, como testificaram abundantemente os apóstolos. Tudo é dEle, por meio dEle, e para Ele. E não há razão para os crentes se reunirem se não for para adorar o Filho de Deus, e dEle se alimentar.
Como, então, atingir esse propósito da Adoração? O que diz a Bíblia sobre os detalhes do culto? O que devemos ter em mente, o que é prioridade, como devem ser usados os dons espirituais concedidos por Cristo ao seu povo? Enfim, o que ensina a Bíblia sobre o modo como se realiza um culto cristão?
A passagem bíblica mais significativa sobre isso é o capítulo 14 da primeira carta de Paulo aos Coríntios. Na verdade, o apóstolo trata do culto público do capítulo 11 ao 14. Mas é no 14 que encontramos o material mais regulador quanto ao modo geral em que o culto deve ser conduzido de modo a prestar a Deus a verdadeira adoração que Ele requer.
Como, então, o culto público atinge adequadamente o alvo da adoração?
A Igreja alcança o propósito do culto cristão
1. Ao edificaR os salvos!
Quando os crentes se reúnem para o culto cristão, e cada um traz a sua contribuição por meio do dom com que foi agraciado pelo Espírito Santo, tudo deve ser feito para a EDIFICAÇÃO do corpo de Cristo. “Assim, também vós, visto que desejais dons espirituais, procurai progredir, para a edificação da igreja.” (14.12). “Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação.” (14.26).
Escrevendo outra carta, aos romanos, sobre o seu grande desejo de visitá-los e conhecê-los, Paulo demonstra o seu desejo de que os dons sirvam para a mútua edificação: “Porque muito desejo ver-vos, a fim de repartir convosco algum dom espiritual, para que sejais confirmados, isto é, para que em vossa companhia, reciprocamente nos confortemos por meio da fé mútua, vossa e minha.” (Rm 1.11-12).
A edificação dos cristãos deve ser um objetivo muito bem estabelecido na mente de quem participa do culto público. Para demonstrar isso, o apóstolo Paulo fala sobre o uso do dom de línguas durante o culto. Ele não proíbe que se fale em outras línguas, como se vê no final do capítulo. Mas ele deixa bastante claro que, se não houver interpretação do que é dito em outra língua, isso não contribui de fato, porque não EDIFICA a ninguém.
O apóstolo ilustra o seu argumento por meio de três figuras:
  • Seria como um instrumento musical que não emite notas afinadas.
  • Ou como um cabo corneteiro que erra o comando no meio da batalha e põe tudo a perder para os seus companheiros.
  • Ou ainda como dois estrangeiros conversando, sem, porém, com que qualquer dos dois compreenda o que diz o outro.

Em todos esses casos, o problema é de comunicação. Paulo alerta sobre a inutilidade em se dizer coisas que ninguém entende: “estareis como se falásseis ao ar” (14.9).
Como, então, fazer com que o meu dom espiritual seja útil aos meus irmãos?
A maneira mais eficaz é lutar contra a tentação da vaidade. Existem crentes que usam os seus dons no culto por puro exibicionismo. O caso mais clássico é justamente o das línguas estranhas, onde é muito difícil não enxergar o interesse em exibir “poderes espirituais” no objetivo de conquistar prestígio entre a irmandade. Essa tentação, porém, não está restrita aos falantes das línguas estranhas. Pela vaidade, macula-se o uso de qualquer dom ou talento. A ordem "Seja tudo feito para edificação” precisa ser um propósito incutido nos nossos corações, do contrário, Cristo não será glorificado.
O pregador pode “falar ao ar” quando, sem caridade, despreza aqueles que não compreendem o seu linguajar, tais como idosos, crianças ou iletrados. Também, quando cai no engano de achar que a sua missão é emocionar seus ouvintes. Isso é possível e aceitável, mas não pode ser esse o alvo de quem ensina.
O cantor pode “falar ao ar” quando, vaidoso, está mais preocupado em exibir seu talento musical do que de garantir que toda a Igreja participe do canto. Instrumentistas podem se equivocar quando não compreendem que a música não é um fim em si mesmo, mas somente outro meio pelo qual a Igreja é edificada. É por essa razão que se vê muitos músicos executando solos durante o louvor, solos que não apontam para a Majestade de Cristo. Nenhum crente é edificado com solos de guitarra, pois eles não são capazes de comunicar o Evangelho. A oração, a pregação, a canção, os sacramentos, tudo que pertence ao culto comunica o Evangelho. Até uma peça teatral cumpriria esse propósito e edificaria os salvos. Mas solos de guitarra e performances sofisticadas na bateria jamais serão capazes de revelar a Cristo.
Aquele que ora, mesmo que no idioma local, pode “falar ao ar” se estiver preocupado em exibir sua inteligência mediante um vocabulário rebuscado e frases indecifráveis. E quem se recusa em fazer orações públicas no culto também perde o foco quando a sua motivação é o medo, porque sequer suporta imaginar que outras pessoas avaliem a sua performance na oração.
Enfim, qualquer um: oficiante, regente, intérprete de libras, operadores de áudio ou datashow, diácono, o presbítero que serve o cálice da Ceia, a professora do culto infantil... qualquer um pode deixar que a vaidade macule o uso do seu dom ou de seu talento na hora do culto, e ficar como se falasse ao ar, quando não compreende que a contribuição de cada crente deve estar voltada para servir aos demais, e assim a edificação fica prejudicada. Todos os dons devem ser utilizados para a edificação da Igreja.
A Igreja alcança o propósito do culto cristão
2. ao evangelizar os não-salvos!
É verdade que seria um grande erro programar e realizar tudo no culto pensando nos visitantes. Mas seria outro erro se os ignorássemos completamente. O culto público também serve para a evangelização. Se nos reunimos para o culto é porque Cristo nos salvou QUANDO ÉRAMOS PECADORES. A razão do Evangelho são os pecadores. “Não vim chamar justos, e sim pecadores, ao arrependimento!”, “Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes!” (Lc 5.32,31). Cristo nos amou e nos perdoou. O culto cristão gira em torno dessa mensagem, as Boas Novas. Não há culto se não há pregação do Evangelho.
Paulo lembra aos crentes de Corinto que PROFETIZAR é muito mais importante do que falar em idioma desconhecido, porque profetizar é pregar a Palavra de Deus:  “O que profetiza fala aos homens, edificando, exortando e consolando.” (14.3). Esse é o verdadeiro propósito da profecia. Hoje em dia, muita gente aprendeu a enxergar profecia como adivinhação. Mas a verdade é que, na Bíblia, no Novo Testamento, o uso do dom profético está associado ao anúncio das verdades reveladas por Deus acerca de Si, e não acerca da vida pessoal dos frequentadores da Igreja. Profecia revela a Deus. Profecia não é um show vaidoso da capacidade de alguém de adivinhar eventos sucedidos na vida dos visitantes, e menos ainda a capacidade de adivinhar o seu futuro. Isso é pura ilusão.
Note como Paulo considera o dom da profecia: “Agora, porém, irmãos, se eu for ter convosco falando em outras línguas, em que vos aproveitarei, se vos não falar por meio de revelação, ou de ciência, ou de profecia, ou de doutrina?” (14.6). Ora, o que vem a ser isso? revelação, ciência ou conhecimento, profecia, e doutrina? São palavras distintas para se referir a diferentes aspectos de uma coisa só: a pregação da Palavra de Deus, o ensino. Esse é o centro do culto cristão, e nenhum outro dom é superior a este. E é por isso que ele diz: “Portanto, irmãos, procurai com zelo o dom de profetizar!” (14.39).
A pregação, o ensino, é o único meio pelo qual Cristo é anunciado aos pecadores. Cada um pode dizer por si mesmo: uma pessoa só se converte de verdade quando finalmente entende e se comove pela morte de Cristo na cruz, onde se encontra remissão dos pecados. Como é que você soube dessas coisas? Foi pela pregação, pelo ensino da Palavra de Deus. Por isso Paulo enfatiza aos romanos: “E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?” (Rm 10.14).
Portanto, quando o pregador anuncia o Reino de Cristo, ao mesmo tempo em que o crente é confortado e animado na sua fé, consolado pela esperança do retorno do Salvador, enquanto o crente é EDIFICADO, então, aquele que ainda não foi salvo ouve o Evangelho, entra em contato com as verdades da cruz, conhece as doutrinas da graça. É na hora da pregação da Bíblia que o incrédulo se torna crente. O uso dos dons espirituais, portanto, devem também ser dirigidos para este fim. O pregador tem que escolher as suas palavras no intuito de atingir o coração do pecador. O músico deve escolher as suas músicas no interesse de fazer o Evangelho compreensível para o visitante.
Mas onde é que Paulo ensinou que o uso dos dons deve ser orientado para o visitante também? Nos versos 23 a 25: “Se, pois, toda a igreja se reunir no mesmo lugar, e todos se puserem a falar em outras línguas, no caso de entrarem indoutos ou incrédulos, não dirão, porventura, que estais loucos? Porém, se todos profetizarem, e entrar algum incrédulo ou indouto, é ele por todos convencido e por todos julgado; tornam-se-lhe manifestos os segredos do coração, e assim, prostrando-se com a face em terra, adorará a Deus, testemunhando que Deus está, de fato, no meio de vós.” (14.23-25).
O objetivo, quanto aos visitantes, é que sejam tocados pelo Evangelho, pela exposição profética da Palavra de Deus, e assim, experimentem o novo nascimento. Isso só ocorre quando o visitante vê o poder de Deus através da Bíblia, porque a Bíblia expõe o seu pecado, e expõe a sua culpa, e revela a sua necessidade de um Salvador. Quando o visitante ouve o Evangelho de Cristo, ele é tocado pelo Espírito de Deus, e, então, diz Paulo, prostra-se com a face em terra, adorando a Deus, e testemunhando que Deus está, de fato, no meio dos cristãos. O texto diz que a profecia serve para confrontar o visitante incrédulo e diante disso ele se converte. Por que? (A) por ouvir um adivinhador revelando seus segredos pessoais? ou (B) por ouvir o Evangelho de Cristo, e esse Evangelho expor ao coração do visitante o seu próprio pecado? O que é mais natural se concluir? As pessoas se convertem por que, afinal? O testemunho bíblico é que somos chamados internamente pelo Espírito Santo, quando externamente a Palavra de Deus nos atinge. Isso não tem nada a ver com adivinhação. Não é adivinhação que leva o pecador à salvação.
As fortes emoções provocadas pela ilusão desses pseudoprofetas não são evidência de nada. Até mesmo um humorista de stand up consegue fazer com que seu público se identifique com o que diz no show. Adivinhações não passam de um show mal produzido por um pregador que não tem nada a dizer sobre a Bíblia, e por isso ele faz fofoca pública no meio do culto. Notem que aqueles que se afirmam como profetas na Igreja têm muito pouco pra dizer da Bíblia. Eles precisam fazer revelações porque da Bíblia não entendem. Não nos esqueçamos do que Paulo disse sobre esse ministério: “O que ensina, esmere-se no fazê-lo!” (Rm 12.7). A verdade é que quem tem conhecimento bíblico para levar à Igreja, jamais desperdiçaria o pouco tempo que tem fazendo adivinhações gospel. Assim como, aquele que tem amor e apreço pela Palavra de Deus, quando vem ao culto, não fica admirado com falsos profetas. Quem ama a Palavra de Deus não quer ouvir isso, quer ouvir ensino. Na verdade, ficamos é chateados quando o tempo do culto é dissipado com essa bobagem toda. Quem ama a Escritura Sagrada vem ao culto sedento e desejoso de ouvir a exposição da Escritura.
E o visitante? O não-salvo? O que tem de ser preparado para ele? Show de adivinhações? Não! O Evangelho da Salvação! O dom da profecia, portanto, é a capacidade dada pelo Espírito de Cristo para anunciar fielmente a Palavra de Deus, tanto para a EDIFICAÇÃO dos cristãos como para a EVANGELIZAÇÃO dos pecadores.
A Igreja alcança o propósito do culto cristão
3. ao proclamar o caráter de cristo!
O culto público, o conjunto da obra, é uma mensagem em alto e bom som de quem é o Deus que os cristãos adoram. O culto expressa o caráter do nosso Deus. É dever dos crentes fazer com que a imagem do Senhor Jesus, que é refletida nesse mundo pela Igreja, seja uma imagem gloriosa! O caráter de Cristo é anunciado não só pelo que dizem os seus discípulos, mas também pelo modo como vivem e se comportam nesse mundo, e, também pelo modo como se reúnem, e conduzem as suas reuniões.
O culto público jamais pode ser motivo de vergonha para os crentes. Se ele acontece numa desordem escandalosa, essa vai ser a imagem que se passará do Deus dos cristãos. Não pode ser assim! O caráter de Cristo tem de ser refletido pelo seu povo, como por um espelho. Portanto o povo de Deus, quando se reúne para a adoração, sempre deve prezar por organização, sobriedade, prudência, e moderação. “Porque Deus não é de confusão, e sim de paz.” (14.33). “Tudo, porém, seja feito com decência e ordem.” (14.40). Decência e ordem são características que proclamam o Deus decente e ordeiro a quem cultuamos.
Cristo disse que seríamos zombados e perseguidos pelos incrédulos. Mas a razão da zombaria é o Evangelho, porque nós anunciamos a salvação através de alguém condenado e crucificado pelos romanos. O escárnio vem do Evangelho. Portanto, é vergonhoso e imoral que os crentes sejam amplamente conhecidos por se comportarem como arruaceiros em seus cultos. Se os crentes se comportam como loucos, então a chacota tem razão de ser. O próprio Paulo pergunta: “não dirão, porventura, que estais loucos?” (14.25).
A) O ESPÍRITO DO PROFETA ESTÁ SUJEITO AO PROFETA!
Nesse contexto, o apóstolo Paulo argumenta contra aqueles crentes que justificam o seu comportamento desordeiro no culto colocando a culpa no Espírito Santo. “Ah! Eu fui tomado pelo poder do Espírito, e depois não vi mais nada!” No entanto, segundo a Bíblia, “os espíritos dos profetas estão sujeitos aos próprios profetas.” E por que? “Porque Deus não é de confusão, e sim de paz.” (14.32-33).
A afirmação do autor aqui serve contra aquele que quer responsabilizar o Espírito Santo pela bagunça do culto. Mas o Espírito não domina ninguém. O Espírito Santo não age como um demônio que assume o controle do corpo humano. Pelo contrário, a presença do Espírito de Deus tem de gerar o fruto do Espírito: domínio próprio, autocontrole (Gl 5.23). Quem tem o Espírito não fica dominado, mas é disciplinado, manso, modesto, equilibrado.
Nos nossos dias você encontra pessoas que, na hora do culto, alegadamente, entram em um estado de êxtase espiritual e começam a tremer, rodar, desmaiar, “cair no Espírito”, correr, pular, dançar, etc. Como se não fosse suficiente, desde 1994, se deu início à chamada Bênção de Toronto, originada numa Igreja no Canadá. Nesse evento, as pessoas imitam os sons de animais, como latidos, miados, grunhidos, rugidos, uivos, cacarejos, etc. Caminham como quadrúpedes, relincham, e são conduzidos por outros crentes por meio de coleiras. Recentemente, a famosa cantora Ana Paula Valadão fez a sua performance durante a gravação de um DVD em Brasília, imitando um leão ao engatinhar no palco.
Afinal, como a Bênção de Toronto se harmoniza com 1 Coríntios 14.33? “Porque Deus não é de confusão, e sim de paz.” Onde está a decência? Quando Paulo disse que Deus não é de confusão, e sim de paz, na verdade, era um argumento contra aqueles que alegam ser dominados pelo Espírito Santo, a tal ponto de perderem a consciência. É visível ou não a incoerência? Tudo é contrário ao ensino da Bíblia! O espírito que atua nesses cultos parece não ser o mesmo Espírito que inspirou a redação das cartas de Paulo, onde se diz, por exemplo, que o espírito do profeta está sujeito ao profeta, ou que o fruto do Espírito não é o descontrole, mas o oposto.
Então, por que os crentes fazem isso tudo no culto? Fazem porque não conhecem a Palavra de Deus, e aprendem esse comportamento leviano por imitação. Cegos sendo guiados por cegos.
B) LIBERDADE PARA VER A CRISTO!
Na tentativa, então, de garantir o direito à bagunça e aos improvisos nos cultos públicos, muitos argumentam citando 2 Coríntios 3.17: “Onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade!”. E os que citam esse versículo pretendem afirmar que se o Espírito está no culto, então Ele tem liberdade para agir. Na verdade, esse é o principal fundamento para se justificar um culto desorganizado. No entanto, quem  utiliza esse verso para esse fim, provavelmente nunca leu os versos precedentes, 14 a 16.
Nessa passagem, Paulo não está ensinando sobre o culto, ou sobre o uso dos dons, ou sobre a liberdade do Espírito para conduzir o culto. Não é isso! Segundo o contexto, a interpretação correta é: onde está o Espírito do Senhor, ali há liberdade, portanto, ali houve libertação, libertação da cegueira que impede uma pessoa de ler a Escritura e enxergar a verdade sobre a salvação em Cristo! É essa liberdade! Quando se ouve um pastor dizer isso no culto, para estimular as pessoas à bagunça, certamente devemos nos lembrar disso: “Onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade”, então, não há mais cegueira espiritual, já houve libertação! A liberdade não é do Espírito, mas do pecador. Onde está o Espírito do Senhor, aí há salvação, porque:
  • é o Espírito Santo quem convence do pecado, da justiça, e do juízo;
  • é o Espírito Santo quem salva;
  • o novo nascimento é o nascimento do Espírito.

Quando lemos a Bíblia, não sofremos da cegueira comum a todas as pessoas, porque temos o Espírito de Deus, portanto temos liberdade, fomos libertos. “Onde está o Espírito do Senhor, aí há salvação!”
Infelizmente, é muito fácil deixar que paixões e desejos carnais encontrem na Bíblia argumentação aparentemente válida para justificar o comportamento vergonhoso de que estamos falando. Não é do culto que Paulo fala, e sim da experiência pessoal de salvação.
C) O CARÁTER ORDEIRO DO REDENTOR!
Por que, então, manter a ordem no culto? Porque o culto público proclama o caráter de Cristo: ele não é Deus de confusão, e sim de paz. O culto tem de ser conduzido por nós de modo a espelhar esse Cristo que é descente, ordeiro e pacífico. Devemos nos alegrar nos cultos, mas para ser alegres não precisamos ser indecentes e irreverentes. É perfeitamente possível fazer tudo com decência e ordem. O tema já foi esclarecido por Paulo. A nós cabe somente entender e obedecer.
Somente nesses termos, portanto, é possível EDIFICAR e EVANGELIZAR eficientemente. E só com decência e ordem é possível PROCLAMAR com justiça o verdadeiro caráter de Cristo.
Aquelas Igrejas que abrem mão desses princípios oferecem um desserviço ao Reino de Deus, porque elas:
  • não EDIFICAM seus crentes,
  • não EVANGELIZAM seus visitantes,
  • e o caráter de Deus que elas conseguem proclamar é de um “deus” diferente dAquele revelado na Bíblia Sagrada.

D) O NOVO NASCIMENTO GERA PROCLAMADORES DO EVANGELHO!
“Mas as pessoas tem se convertido! Pecadores estão sendo salvos! Isso, afinal, não deveria servir de evidência de que Deus tem aprovado o culto desorganizado?” 
Pois bem! Há muita gente na Igreja, “convertida”, que não consegue dar uma palavra sobre o Evangelho. Isso é um fato! É óbvio que não são todos, e, se são a maioria ou não, é impossível dizer sem uma pesquisa séria. Mas é visível que tem muito crente por aí que não é capaz de proclamar espontaneamente o Evangelho que o salvou. Para piorar, estes mesmos conseguem compartilhar sobre sua fé, mas falando somente a respeito de vitórias que receberam ou de experiências extraordinárias que vivenciaram. A boca fala do que está cheio o coração. Eu respeito aqueles que no exercício de sua espiritualidade obtêm experiências e vitórias, desde que sua boca esteja cheia do Evangelho, e desde que a importância de sua Vitória esteja anos-luz à frente dessas pequenas vitórias.
Nem toda adesão é uma conversão. Os verdadeiros convertidos não glorificam as suas próprias obras e muito menos os seus méritos. Pelo contrário, glorificam a obra da cruz e o Senhor que se sacrificou por eles. Tem muita gente aderindo à Igreja, mas pouca gente nascendo do Espírito, pouca gente passando pelo novo nascimento. Tem muita gente se emocionando com a palavra de adivinhação de um falso profeta, mas pouca gente se comovendo com a cruz pregada pelos verdadeiros ministros do Evangelho. Podem até me criticar por essa posição (certamente muitos vão), mas uma conversão ao final de um culto em que a cruz de Cristo não foi proclamada não é uma conversão cristã. É IMPOSSÍVEL que alguém tenha se convertido sem ouvir acerca da morte e da ressurreição do nosso Senhor Jesus Cristo, sem que tenha sido confrontado pela Lei de Deus, e chamado ao arrependimento de pecados. Salvação só é verdadeira se é pela fé em Cristo e no sacrifício remidor. Do contrário, não passa de uma adesão à Igreja.
Crentes reunidos desperdiçando todo o tempo do culto com um monte de coisas supérfluas sem dizer nada do Evangelho é a moda das igrejas evangélicas.
CONCLUSÃO
O Senhor Jesus Cristo um dia se sacrificou! Foi torturado e moído! Um dia Ele foi humilhado, e as pessoas que se reuniram em torno dele faziam algazarras. No dia da crucificação, muita gente se reuniu por causa de Cristo, mas não foi para adorá-lo e nem para ouvi-lo. Reuniu-se para fazer bagunça.
No culto público, os cristãos fazem diferente. Reúnem-se em torno de Cristo para ouvir a Sua Palavra. O alvo é ser como Maria, que preferiu a melhor parte. O coração do crente arde pela Escritura Sagrada, pelo ensino, pela doutrina. Isso é a verdadeira profecia. No culto cristão celebra-se reverentemente o nome do Senhor, exalta-se Aquele que foi humilhado, e adora-se com decência e ordem Aquele que foi vítima de uma gritaria própria de gente desordeira. Quem se reuniu em torno de Cristo para fazer algazarra foram os inimigos de Deus. Esse fato deveria ser suficiente para que haja reflexão sobre o modo como tem sido realizado o culto em cada comunidade local!
Que se prefira o jeito que Ele exigiu, sem cedermos às paixões pecaminosas que nos assediam. Que não seja do jeito que nos agrada, mas do modo como Ele requer. Façamos tudo, portanto, segundo a vontade dEle. “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A Ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Rm 11.36).

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