quarta-feira, 1 de outubro de 2014

O APARELHO EXCRETOR DE LEVY FIDELIX: A QUESTÃO DA FAMÍLIA


[2ª parte / continuação do artigo anterior: A Questão Política]

Das declarações de Levy Fidelix que fizeram dele o assunto mais comentado da semana, a primeira foi a seguinte:
— Olha, minha filha, tenho sessenta e dois anos. Pelo que eu vi na vida, dois iguais não fazem filho. E digo mais, digo mais: desculpe, mas aparelho excretor não reproduz. É feio dizer isso, mas... 
Fidelix respondia a uma pergunta de Luciana Genro no debate entre os presidenciáveis, e suas palavras não podem ser retiradas do contexto. Luciana disse que todo tipo de união deve ser reconhecida como família. O que Levy Fidelix procurou demonstrar foi seu entendimento de inadequação dessa proposta, visto que dois iguais não se reproduzem. Sendo assim, se há impossibilidade de reprodução, não é uma família. O uso da expressão "aparelho excretor" foi infeliz e de mau gosto. Ele próprio admitiu que é feio se dizer isso. No entanto, por meio dessa frase ele só repetiu a mesma ideia exposta nas palavras anteriores: a relação sexual entre dois homens não tem poder de reprodução. 

Se o dilema está em torno do que é uma família, então devemos compreender esse ponto antes de tudo. A família é um grupo social primário formado por pessoas ligadas por descendência a partir de um ancestral comum, por matrimônio ou por adoção. Se o vínculo existe, então a família está formada. 

Pode-se discordar das leis e práticas vigentes em que solteiros ou pares homossexuais sejam capazes de realizar a adoção de uma criança. Mas, se a adoção foi feita, a família foi constituída. Os opositores não devem lutar contra rótulos. Se há insatisfação com a realidade presente, deve-se combater o direito à adoção antes de tudo. Retroceder na conquista deste direito, contudo, é uma meta praticamente inatingível. 

No passado recente, quando o tema estava em deliberação, tentar impedir esse tipo de adoção pareceu uma iniciativa desumana e ninguém quis comprar essa briga. Quem é que lutaria em favor de que uma criança continuasse num orfanato? Agora, porém, não há contra o que lutar em termos de reconhecimento do que é uma família. Se há um vínculo ancestral, matrimonial ou adotivo, então a família existe.