sábado, 31 de outubro de 2015

As 95 Teses de Martinho Lutero


Por ocasião dos 498 anos da Reforma Protestante na Europa.

Em 31 de Outubro de 1517, Martinho Lutero afixou na porta da capela de Wittemberg 95 teses que gostaria de discutir com os teólogos católicos, as quais versavam principalmente sobre penitência, indulgências e a salvação pela fé. O evento marca o início da Reforma Protestante, de onde posteriormente veio a Igreja Presbiteriana, e representa um marco e um ponto de partida para a recuperação das sãs doutrinas. 


Movido pelo amor e pelo empenho em prol do esclarecimento da verdade discutir-se-á em Wittemberg, sob a presidência do Rev. padre Martinho Lutero, o que segue. Aqueles que não puderem estar presentes para tratarem o assunto verbalmente conosco, o poderão fazer por escrito.
Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.

1ª Tese
Dizendo nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo: Arrependei-vos...., certamente quer que toda a vida dos seus crentes na terra seja contínuo arrependimento.
2ª Tese
E esta expressão não pode e não deve ser interpretada como referindo-se ao sacramento da penitência, isto é, à confissão e satisfação, a cargo do ofício dos sacerdotes.
3ª Tese
Todavia não quer que apenas se entenda o arrependimento interno; o arrependimento interno nem mesmo é arrependimento quando não produz toda sorte de modificações da carne.
4ª Tese
Assim sendo, o arrependimento e o pesar, isto é, a verdadeira penitência, perdura enquanto o homem se desagradar de si mesmo, a saber, até a entrada desta para a vida eterna.
5ª Tese
O papa não quer e não pode dispensar outras penas, além das que impôs ao seu alvitre ou em acordo com os cânones, que são estatutos papais.
6ª Tese
O papa não pode perdoar divida senão declarar e confirmar aquilo que Já foi perdoado por Deus; ou então faz nos casos que lhe foram reservados. Nestes casos, se desprezados, a dívida deixaria de ser em absoluto anulada ou perdoada.
7ª Tese
Deus a ninguém perdoa a dívida sem que ao mesmo tempo o subordine, em sincera humildade, ao sacerdote, seu vigário.
8ª Tese
Canones poenitendiales, que não as ordenanças de prescrição da maneira em que se deve confessar e expiar, apenas aio Impostas aos vivos, e, de acordo com as mesmas ordenanças, não dizem respeito aos moribundos.
9ª Tese
Eis porque o Espírito Santo nos faz bem mediante o papa, excluído este de todos os seus decretos ou direitos o artigo da morte e da necessidade suprema
10ª Tese
Procedem desajuizadamente e mal os sacerdotes que reservam e impõem aos moribundos poenitentias canonicas ou penitências para o purgatório a fim de ali serem cumpridas.
11ª Tese
Este joio, que é o de se transformar a penitência e satisfação, Previstas pelos cânones ou estatutos, em penitência ou penas do purgatório, foi semeado quando os bispos se achavam dormindo.
12ª Tese
Outrora canonicae poenae, ou sejam penitência e satisfação por pecadores cometidos eram impostos, não depois, mas antes da absolvição, com a finalidade de provar a sinceridade do arrependimento e do pesar.
13ª Tese
Os moribundos tudo satisfazem com a sua morte e estão mortos para o direito canônico, sendo, portanto, dispensados, com justiça, de sua imposição.
14ª Tese
Piedade ou amor Imperfeitos da parte daquele que se acha às portas da morte necessariamente resultam em grande temor; logo, quanto menor o amor, tanto maior o temor.
15ª Tese
Este temor e espanto em si tão só, sem falar de outras cousas, bastam para causar o tormento e o horror do purgatório, pois que se avizinham da angústia do desespero.
16ª Tese
Inferno, purgatório e céu parecem ser tão diferentes quanto o são um do outro o desespero completo, incompleto ou quase desespero e certeza.
17ª Tese
Parece que assim como no purgatório diminuem a angústia e o espanto das almas, nelas também deve crescer e aumentar o amor.
18ª Tese
Bem assim parece não ter sido provado, nem por boas ações e nem pela Escritura, que as almas no purgatório se encontram fora da possibilidade do mérito ou do crescimento no amor.
19ª Tese
Ainda parece não ter sido provado que todas as almas do purgatório tenham certeza de sua salvação e não receiem por ela, não obstante nós termos absoluta certeza disto.
20ª Tese
Por isso o papa não quer dizer e nem compreende com as palavras “perdão plenário de todas as penas” que todo o tormento é perdoado, mas as penas por ele impostas.
21ª Tese
Eis porque erram os apregoadores de indulgências ao afirmarem ser o homem perdoado de todas as penas e salvo mediante a indulgência do papa.
22ª Tese
Pensa com efeito, o papa nenhuma pena dispensa às almas no purgatório das que segundo os cânones da Igreja deviam ter expiado e pago na presente vida.
23ª Tese
Verdade é que se houver qualquer perdão plenário das penas, este apenas será dado aos mais perfeitos, que são muito poucos.
24ª Tese
Assim sendo, a maioria do povo é ludibriada com as pomposas promessas do indistinto perdão, impressionando-se o homem singelo com as penas pagas.
25ª Tese
Exatamente o mesmo poder geral, que o papa tem sobre o purgatório, qualquer bispo e cura d'almas o tem no seu bispado e na sua paróquia, quer de modo especial e quer para com os seus em particular.
26ª Tese
O papa faz muito bem em não conceder às almas o perdão em virtude do poder das chaves (ao qual não possui), mas pela ajuda ou em forma de intercessão.
27ª Tese
Pregam futilidades humanas quantos alegam que no momento em que a moeda soa ao cair na caixa a alma se vai do purgatório.
28ª Tese
Certo é que no momento em que a moeda soa na caixa vêm o lucro e o amor ao dinheiro cresce e aumenta; a ajuda, porém, ou a intercessão da Igreja tão só correspondem à vontade e ao agrado de Deus.
29ª Tese
E quem sabe, se todas as almas do purgatório querem ser libertadas, quando há quem diga o que sucedeu com Santo Severino e Pascoal.
30ª Tese
Ninguém tem certeza da suficiência do seu arrependimento e pesar verdadeiros; muito menos certeza pode ter de haver alcançado pleno perdão dos seus pecados.
31ª Tese
Tão raro como existe alguém que possui arrependimento e, pesar verdadeiros, tão raro também é aquele que verdadeiramente alcança indulgência, sendo bem poucos os que se encontram.
32ª Tese
Irão para o diabo juntamente com os seus mestres aqueles que julgam obter certeza de sua salvação mediante breves de indulgência.
33ª Tese
Há que acautelasse muito e ter cuidado daqueles que dizem: A indulgência do papa é a mais sublime e mais preciosa graça ou dadiva de Deus, pela qual o homem é reconciliado com Deus.
34ª Tese
Tanto assim que a graça da indulgência apenas se refere à pena satisfatória estipulada por homens.
35ª Tese
Ensinam de maneira ímpia quantos alegam que aqueles que querem livrar almas do purgatório ou adquirir breves de confissão não necessitam de arrependimento e pesar.
36ª Tese
Todo e qualquer cristão que se arrepende verdadeiramente dos seus pecados, sente pesar por ter pecado, tem pleno perdão da pena e da dívida, perdão esse que lhe pertence mesmo sem breve de indulgência.
37ª Tese
Todo e qualquer cristão verdadeiro, vivo ou morto, é participante de todos os bens de Cristo e da Igreja, dádiva de Deus, mesmo sem breve de indulgência.
38ª Tese
Entretanto se não deve desprezar o perdão e a distribuição por parte do papa. Pois, conforme declarei, o seu perdão constitui uma declaração do perdão divino.
39ª Tese
É extremamente difícil, mesmo para os mais doutos teólogos, exaltar diante do povo ao mesmo tempo a grande riqueza da indulgência e ao contrário o verdadeiro arrependimento e pesar.
40ª Tese
O verdadeiro arrependimento e pesar buscam e amam o castigo: mas a profusão da indulgência livra das penas e faz com que se as aborreça, pelo menos quando há oportunidade para isso.
41ª Tese
É necessário pregar cautelosamente sobre a indulgência papal para que o homem singelo não julgue erroneamente ser a indulgência preferível às demais obras de caridade ou melhor do que elas.
42ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos, não ser pensamento e opinião do papa que a aquisição de indulgência de alguma maneira possa ser comparada com qualquer obra de caridade.
43ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos proceder melhor quem dá aos pobres ou empresta aos necessitados do que os que compram indulgências.
44ª Tese
Ê que pela obra de caridade cresce o amor ao próximo e o homem torna-se mais piedoso; pelas indulgências, porém, não se torna melhor senão mais seguro e livre da pena.
45ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos que aquele que vê seu próximo padecer necessidade e a despeito disto gasta dinheiro com indulgências, não adquire indulgências do papa. mas provoca a ira de Deus.
46ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos que, se não tiverem fartura , fiquem com o necessário para a casa e de maneira nenhuma o esbanjem com indulgências.
47ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos, ser a compra de indulgências livre e não ordenada
48ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa precisa conceder mais indulgências, mais necessita de uma oração fervorosa do que de dinheiro.
49ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos, serem muito boas as indulgências do papa enquanto o homem não confiar nelas; mas muito prejudiciais quando, em conseqüência delas, se perde o temor de Deus.
50ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa tivesse conhecimento da traficância dos apregoadores de indulgências, preferiria ver a catedral de São Pedro ser reduzida a cinzas a ser edificada com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.
51ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos que o papa, por dever seu, preferiria distribuir o seu dinheiro aos que em geral são despojados do dinheiro pelos apregoadores de indulgências, vendendo, se necessário fosse, a própria catedral de São Pedro.
52º Tese
Comete-se injustiça contra a Palavra de Deus quando, no mesmo sermão, se consagra tanto ou mais tempo à indulgência do que à pregação da Palavra do Senhor.
53ª Tese
São inimigos de Cristo e do papa quantos por causa da prédica de indulgências proíbem a Palavra de Deus nas demais igrejas.
54ª Tese
Esperar ser salvo mediante breves de indulgência é vaidade e mentira, mesmo se o comissário de indulgências, mesmo se o próprio papa oferecesse sua alma como garantia.
55ª Tese
A intenção do papa não pode ser outra do que celebrar a indulgência, que é a causa menor, com um sino, uma pompa e uma cerimônia, enquanto o Evangelho, que é o essencial, importa ser anunciado mediante cem sinos, centenas de pompas e solenidades.
56ª Tese
Os tesouros da Igreja, dos quais o papa tira e distribui as indulgências, não são bastante mencionados e nem suficientemente conhecido na Igreja de Cristo.
57ª Tese
Que não são bens temporais, é evidente, porquanto muitos pregadores a estes não distribuem com facilidade, antes os ajuntam.
58ª Tese
Tão pouco são os merecimentos de Cristo e dos santos, porquanto estes sempre são eficientes e, independentemente do papa, operam salvação do homem interior e a cruz, a morte e o inferno para o homem exterior.
59ª Tese
São Lourenço aos pobres chamava tesouros da Igreja, mas no sentido em que a palavra era usada na sua época.
60ª Tese
Afirmamos com boa razão, sem temeridade ou leviandade, que estes tesouros são as chaves da Igreja, a ela dado pelo merecimento de Cristo.
61ª Tese
Evidente é que para o perdão de penas e para a absolvição em determinados casos o poder do papa por si só basta.
62ª Tese
O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.
63ª Tese
Este tesouro, porém, é muito desprezado e odiado, porquanto faz com que os primeiros sejam os últimos.
64ª Tese
Enquanto isso o tesouro das indulgências é sabiamente o mais apreciado, porquanto faz com que os últimos sejam os primeiros.
65ª Tese
Por essa razão os tesouros evangélicos outrora foram as redes com que se apanhavam os ricos e abastados.
66ª Tese
Os tesouros das indulgências, porém, são as redes com que hoje se apanham as riquezas dos homens.
67ª Tese
As indulgências apregoadas pelos seus vendedores como a mais sublime graça decerto assim são consideradas porque lhes trazem grandes proventos.
68ª Tese
Nem por isso semelhante indigência não deixa de ser a mais Intima graça comparada com a graça de Deus e a piedade da cruz.
69ª Tese
Os bispos e os sacerdotes são obrigados a receber os comissários das indulgências apostólicas com toda a reverência-
70ª Tese
Entretanto têm muito maior dever de conservar abertos olhos e ouvidos, para que estes comissários, em vez de cumprirem as ordens recebidas do papa, não preguem os seus próprios sonhos.
71ª Tese
Aquele, porém, que se insurgir contra as palavras insolentes e arrogantes dos apregoadores de indulgências, seja abençoado.
72ª Tese
Quem levanta a sua voz contra a verdade das indulgências papais é excomungado e maldito.
73ª Tese
Da mesma maneira em que o papa usa de justiça ao fulminar com a excomunhão aos que em prejuízo do comércio de indulgências procedem astuciosamente.
74ª Tese
Muito mais deseja atingir com o desfavor e a excomunhão àqueles que, sob o pretexto de indulgência, prejudiquem a santa caridade e a verdade pela sua maneira de agir.
75ª Tese
Considerar as indulgências do papa tão poderosas, a ponto de poderem absolver alguém dos pecados, mesmo que (cousa impossível) tivesse desonrado a mãe de Deus, significa ser demente.
78 ªTese
Bem ao contrario, afirmamos que a indulgência do papa nem mesmo o menor pecado venial pode anular o que diz respeito à culpa que constitui.
77ª Tese
Dizer que mesmo São Pedro, se agora fosse papa, não poderia dispensar maior indulgência, significa blasfemar S. Pedro e o papa.
78ª Tese
Em contrario dizemos que o atual papa, e todos os que o sucederam, é detentor de muito maior indulgência, isto é, o Evangelho, as virtudes o dom de curar, etc., de acordo com o que diz 1Coríntios 12.
79ª Tese
Afirmar ter a cruz de indulgências adornada com as armas do papa e colocada na igreja tanto valor como a própria cruz de Cristo, é blasfêmia.
80ª Tese
Os bispos, padres e teólogos que consentem em semelhante linguagem diante do povo, terão de prestar contas deste procedimento.
81ª Tese
Semelhante pregação, a enaltecer atrevida e insolentemente a Indulgência, faz com que mesmo a homens doutos é difícil proteger a devida reverência ao papa contra a maledicência e as fortes objeções dos leigos.
82 ªTese
Eis um exemplo: Por que o papa não tira duma só vez todas as almas do purgatório, movido por santíssima' caridade e em face da mais premente necessidade das almas, que seria justíssimo motivo para tanto, quando em troca de vil dinheiro para a construção da catedral de S. Pedro, livra um sem número de almas, logo por motivo bastante Insignificante?
83ª Tese
Outrossim: Por que continuam as exéquias e missas de ano em sufrágio das almas dos defuntos e não se devolve o dinheiro recebido para o mesmo fim ou não se permite os doadores busquem de novo os benefícios ou pretendas oferecidos em favor dos mortos, visto' ser Injusto continuar a rezar pelos já resgatados?
84ª Tese
Ainda: Que nova piedade de Deus e dó papa é esta, que permite a um ímpio e inimigo resgatar uma alma piedosa e agradável a Deus por amor ao dinheiro e não resgatar esta mesma alma piedosa e querida de sua grande necessidade por livre amor e sem paga?
85ª Tese
Ainda: Por que os cânones de penitencia, que, de fato, faz muito caducaram e morreram pelo desuso, tornam a ser resgatados mediante dinheiro em forma de indulgência como se continuassem bem vivos e em vigor?
86ª Tese
Ainda: Por que o papa, cuja fortuna hoje é mais principesca do que a de qualquer Credo, não prefere edificar a catedral de S. Pedro de seu próprio bolso em vez de o fazer com o dinheiro de fiéis pobres?
87ª Tese
Ainda: Quê ou que parte concede o papa do dinheiro proveniente de indulgências aos que pela penitência completa assiste o direito à indulgência plenária?
88ª Tese
Afinal: Que maior bem poderia receber a Igreja, se o papa, como Já O faz, cem vezes ao dia, concedesse a cada fiel semelhante dispensa e participação da indulgência a título gratuito.
89ª Tese
Visto o papa visar mais a salvação das almas do que o dinheiro, por que revoga os breves de indulgência outrora por ele concedidos, aos quais atribuía as mesmas virtudes?
90ª Tese
Refutar estes argumentos sagazes dos leigos pelo uso da força e não mediante argumentos da lógica, significa entregar a Igreja e o papa a zombaria dos inimigos e desgraçar os cristãos.
91ª Tese
Se a Indulgência fosse apregoada segundo o espírito e sentido do papa, aqueles receios seriam facilmente desfeitos, nem mesmo teriam surgido.
92ª Tese
Fora, pois, com todos estes profetas que dizem ao povo de Cristo: Paz! Paz! e não há Paz.
93ª Tese
Abençoados sejam, porém, todos os profetas que dizem à grei de Cristo: Cruz! Cruz! e não há cruz.
94ª Tese
Admoestem-se os cristãos a que se empenhem em seguir sua Cabeça Cristo através do padecimento, morte e inferno.
95ª Tese
E assim esperem mais entrar no Reino dos céus através de muitas tribulações do que facilitados diante de consolações infundadas.

Fonte: http://www.monergismo.com/textos/credos/lutero_teses.htm

domingo, 25 de outubro de 2015

ESCLARECIMENTOS ACERCA DA SOLENIDADE DO CULTO CRISTÃO


Recentemente, estive pensando sobre algumas instruções práticas para a Igreja sobre como devemos nos comportar nas reuniões cristãs de modo a justificar o que chamamos de "solenidade" do culto.

Então, elaborei alguns pontos que têm nos ajudado a refletir sobre o tema, e que compartilho agora:

1. O culto público é um exercício racional e espiritual que exige atenção. Em favor da edificação, um ambiente tranquilo é desejado. A concentração, portanto, deve ser respeitada e protegida contra possíveis distrações.

2. O culto todo é uma solenidade. Há, porém, momentos especialmente solenes em que a serenidade deve ser ainda mais resguardada, a saber: as leituras bíblicas e as orações.

3. Em tais momentos, o ruído, o trânsito, e as conversações devem ser rigorosamente evitados, bem como qualquer comportamento que atente contra a ordem e decência (1Coríntios 14).

4. Desestimulamos o uso de aparelhos eletrônicos. E censuramos a irreverência daqueles que insistem em manter ativados seus recursos de telefonia e internet na hora do culto. Recomendamos que se desligue o aparelho ainda antes de adentrar ao templo.

5. Não obstante, é necessário enfatizar que “solenidade” jamais deve ser confundida com “enfado” e “frieza”. O culto cristão é uma celebração de júbilo (Salmo 100) que deve promover satisfação, contentamento, bem-aventurança e ânimo para a alma. Segundo a Escritura, o culto é uma FESTA SOLENE que alegra o coração do povo de Deus (Sl 122).

quinta-feira, 28 de maio de 2015

REUNIDOS EM TORNO DO SENHOR JESUS

1 Coríntios 14


Houve uma noite em que o Senhor Jesus reuniu em torno de si um grande número de pessoas. Na verdade, isso era frequente no seu ministério terreno, então, não haveria nada demais nisso, a não ser pelo fato de que essa noite foi especialmente diferente, porque essa é a noite em que Judas Iscariotes o traiu. Desde a prisão efetuada no Getsêmani, tendo compreendido que Jesus não reagiria, todos os seus companheiros o abandonaram. Então, completamente só, a reunião em torno de Cristo assumiu aspectos bem distintos do que Ele havia experimentado até ali. Jesus tinha muito prestígio e reunia multidões durante o dia, quando todos podiam vê-lo. Mas aquele grupo não queria que Seus admiradores vissem o que eles estavam prestes a realizar, e, por isso, orquestraram um plano perverso para ser executado na madrugada.
Muita gente se reuniu em torno de Jesus naquela noite, com o propósito de escarnecê-lo. Primeiro, o Sinédrio. Os líderes religiosos queriam vê-lo, mas não para adorá-lo; queriam acusá-lo falsamente, esbofeteá-lo, e demonstrar todo o seu desprezo. Encaminharam-no, então, a Pôncio Pilatos, que o interrogou. Ele também teve a sua oportunidade de estar com o Rei dos reis. Mas não reconheceu a Sua majestade. Enviou-o para Herodes, na corte de fanfarrões. Ali, o Senhor Jesus de novo foi alvo das zombarias. Foi desrespeitado, tratado como um louco varrido. Herodes pedia por um milagre como se quisesse assistir a um espetáculo, e tratou o Pai da Eternidade como a um bufão. Diante da recusa de servir de palhaço, Jesus foi enviado de volta a Pilatos, onde foi submetido à tortura pelos soldados romanos. Apanhou muito, foi chicoteado, chacoteado e achincalhado. Sortearam o seu manto. E já que aquele galileu se considerava o Rei dos judeus, tiveram o cuidado de confeccionar uma coroa de espinhos para encravá-la na cabeça dEle. Pilatos, então, reuniu no pátio externo do seu palácio uma pequena multidão, para apresentar o Cristo humilhado, surrado, e “coroado”! Como se não bastasse, os congregados clamaram pela crucificação. Pilatos não desperdiçou a oportunidade. Havia muita gente reunida ali para ver Jesus, e se era a cruz que eles queriam, então a cruz eles teriam. Como tanta gente, Pilatos, bom político que era, usou a morte de Cristo para seu benefício pessoal.
Diante de públicos distintos, em lugares diferentes, mas sempre uma assembleia cheia de gente curiosa e irreverente: zombeteiros e escarnecedores. Agora, na Via Crucis, caminhando ao lado do condenado, e, em seguida, reunidos em torno da cruz erguida, não para contemplá-la, mas para divertir-se. O Todo-Poderoso era desafiado e ofendido.
É notável, portanto, como é possível se realizar uma reunião em torno de Jesus, congregar pessoas no nome de Jesus, e mesmo assim, não oferecer a Ele a glória que Lhe é devida. Naquela noite, muita gente se aproximou do Senhor, mas não com o fim de se aquietarem aos pés do Mestre, e sim para assistir a um espetáculo de tortura, humilhação, zombaria, e assassinato.
Os cristãos também se reúnem em torno de Cristo! Não para isso, contudo! Ao contrário: reúnem-se para adorá-lo. Desde os eventos da crucificação, os discípulos aprenderam a fazer reuniões. Nos 40 dias em que o Senhor esteve entre eles, ressurreto, os discípulos ainda gozaram da sua companhia, inclusive, fisicamente. Reuniam-se por causa de Cristo, e na companhia de Cristo. Até que, na última reunião, registrada no capítulo 1 de Atos, Cristo, à vista dos discípulos, subiu ao céu entre as nuvens.
Mas as reuniões não cessaram. Agora, sem a presença física do Mestre, mas continuaram a se reunir por causa dEle. Assim como ensinou o Senhor, reuniam-se no nome de Cristo, em torno de Cristo, desfrutando, agora espiritualmente, da presença de Cristo. Segundo o Novo Testamento, passaram a se juntar no Domingo, o primeiro dia da semana, para celebrar a Ceia do Senhor e realizar o que nós chamamos de “culto”. É claro que quando alguém separa um tempo no seu quarto em secreto com o Pai, isso também é culto, mas quando falamos em culto público, referimo-nos aos momentos que se compartilha com outros crentes, sejam nas dependências da Igreja, nos pequenos grupos da Igreja, ou em cultos domésticos. O propósito central do culto é Cristo, a exaltação de Cristo, como testificaram abundantemente os apóstolos. Tudo é dEle, por meio dEle, e para Ele. E não há razão para os crentes se reunirem se não for para adorar o Filho de Deus, e dEle se alimentar.
Como, então, atingir esse propósito da Adoração? O que diz a Bíblia sobre os detalhes do culto? O que devemos ter em mente, o que é prioridade, como devem ser usados os dons espirituais concedidos por Cristo ao seu povo? Enfim, o que ensina a Bíblia sobre o modo como se realiza um culto cristão?
A passagem bíblica mais significativa sobre isso é o capítulo 14 da primeira carta de Paulo aos Coríntios. Na verdade, o apóstolo trata do culto público do capítulo 11 ao 14. Mas é no 14 que encontramos o material mais regulador quanto ao modo geral em que o culto deve ser conduzido de modo a prestar a Deus a verdadeira adoração que Ele requer.
Como, então, o culto público atinge adequadamente o alvo da adoração?
A Igreja alcança o propósito do culto cristão
1. Ao edificaR os salvos!
Quando os crentes se reúnem para o culto cristão, e cada um traz a sua contribuição por meio do dom com que foi agraciado pelo Espírito Santo, tudo deve ser feito para a EDIFICAÇÃO do corpo de Cristo. “Assim, também vós, visto que desejais dons espirituais, procurai progredir, para a edificação da igreja.” (14.12). “Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação.” (14.26).
Escrevendo outra carta, aos romanos, sobre o seu grande desejo de visitá-los e conhecê-los, Paulo demonstra o seu desejo de que os dons sirvam para a mútua edificação: “Porque muito desejo ver-vos, a fim de repartir convosco algum dom espiritual, para que sejais confirmados, isto é, para que em vossa companhia, reciprocamente nos confortemos por meio da fé mútua, vossa e minha.” (Rm 1.11-12).
A edificação dos cristãos deve ser um objetivo muito bem estabelecido na mente de quem participa do culto público. Para demonstrar isso, o apóstolo Paulo fala sobre o uso do dom de línguas durante o culto. Ele não proíbe que se fale em outras línguas, como se vê no final do capítulo. Mas ele deixa bastante claro que, se não houver interpretação do que é dito em outra língua, isso não contribui de fato, porque não EDIFICA a ninguém.
O apóstolo ilustra o seu argumento por meio de três figuras:
  • Seria como um instrumento musical que não emite notas afinadas.
  • Ou como um cabo corneteiro que erra o comando no meio da batalha e põe tudo a perder para os seus companheiros.
  • Ou ainda como dois estrangeiros conversando, sem, porém, com que qualquer dos dois compreenda o que diz o outro.

Em todos esses casos, o problema é de comunicação. Paulo alerta sobre a inutilidade em se dizer coisas que ninguém entende: “estareis como se falásseis ao ar” (14.9).
Como, então, fazer com que o meu dom espiritual seja útil aos meus irmãos?
A maneira mais eficaz é lutar contra a tentação da vaidade. Existem crentes que usam os seus dons no culto por puro exibicionismo. O caso mais clássico é justamente o das línguas estranhas, onde é muito difícil não enxergar o interesse em exibir “poderes espirituais” no objetivo de conquistar prestígio entre a irmandade. Essa tentação, porém, não está restrita aos falantes das línguas estranhas. Pela vaidade, macula-se o uso de qualquer dom ou talento. A ordem "Seja tudo feito para edificação” precisa ser um propósito incutido nos nossos corações, do contrário, Cristo não será glorificado.
O pregador pode “falar ao ar” quando, sem caridade, despreza aqueles que não compreendem o seu linguajar, tais como idosos, crianças ou iletrados. Também, quando cai no engano de achar que a sua missão é emocionar seus ouvintes. Isso é possível e aceitável, mas não pode ser esse o alvo de quem ensina.
O cantor pode “falar ao ar” quando, vaidoso, está mais preocupado em exibir seu talento musical do que de garantir que toda a Igreja participe do canto. Instrumentistas podem se equivocar quando não compreendem que a música não é um fim em si mesmo, mas somente outro meio pelo qual a Igreja é edificada. É por essa razão que se vê muitos músicos executando solos durante o louvor, solos que não apontam para a Majestade de Cristo. Nenhum crente é edificado com solos de guitarra, pois eles não são capazes de comunicar o Evangelho. A oração, a pregação, a canção, os sacramentos, tudo que pertence ao culto comunica o Evangelho. Até uma peça teatral cumpriria esse propósito e edificaria os salvos. Mas solos de guitarra e performances sofisticadas na bateria jamais serão capazes de revelar a Cristo.
Aquele que ora, mesmo que no idioma local, pode “falar ao ar” se estiver preocupado em exibir sua inteligência mediante um vocabulário rebuscado e frases indecifráveis. E quem se recusa em fazer orações públicas no culto também perde o foco quando a sua motivação é o medo, porque sequer suporta imaginar que outras pessoas avaliem a sua performance na oração.
Enfim, qualquer um: oficiante, regente, intérprete de libras, operadores de áudio ou datashow, diácono, o presbítero que serve o cálice da Ceia, a professora do culto infantil... qualquer um pode deixar que a vaidade macule o uso do seu dom ou de seu talento na hora do culto, e ficar como se falasse ao ar, quando não compreende que a contribuição de cada crente deve estar voltada para servir aos demais, e assim a edificação fica prejudicada. Todos os dons devem ser utilizados para a edificação da Igreja.
A Igreja alcança o propósito do culto cristão
2. ao evangelizar os não-salvos!
É verdade que seria um grande erro programar e realizar tudo no culto pensando nos visitantes. Mas seria outro erro se os ignorássemos completamente. O culto público também serve para a evangelização. Se nos reunimos para o culto é porque Cristo nos salvou QUANDO ÉRAMOS PECADORES. A razão do Evangelho são os pecadores. “Não vim chamar justos, e sim pecadores, ao arrependimento!”, “Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes!” (Lc 5.32,31). Cristo nos amou e nos perdoou. O culto cristão gira em torno dessa mensagem, as Boas Novas. Não há culto se não há pregação do Evangelho.
Paulo lembra aos crentes de Corinto que PROFETIZAR é muito mais importante do que falar em idioma desconhecido, porque profetizar é pregar a Palavra de Deus:  “O que profetiza fala aos homens, edificando, exortando e consolando.” (14.3). Esse é o verdadeiro propósito da profecia. Hoje em dia, muita gente aprendeu a enxergar profecia como adivinhação. Mas a verdade é que, na Bíblia, no Novo Testamento, o uso do dom profético está associado ao anúncio das verdades reveladas por Deus acerca de Si, e não acerca da vida pessoal dos frequentadores da Igreja. Profecia revela a Deus. Profecia não é um show vaidoso da capacidade de alguém de adivinhar eventos sucedidos na vida dos visitantes, e menos ainda a capacidade de adivinhar o seu futuro. Isso é pura ilusão.
Note como Paulo considera o dom da profecia: “Agora, porém, irmãos, se eu for ter convosco falando em outras línguas, em que vos aproveitarei, se vos não falar por meio de revelação, ou de ciência, ou de profecia, ou de doutrina?” (14.6). Ora, o que vem a ser isso? revelação, ciência ou conhecimento, profecia, e doutrina? São palavras distintas para se referir a diferentes aspectos de uma coisa só: a pregação da Palavra de Deus, o ensino. Esse é o centro do culto cristão, e nenhum outro dom é superior a este. E é por isso que ele diz: “Portanto, irmãos, procurai com zelo o dom de profetizar!” (14.39).
A pregação, o ensino, é o único meio pelo qual Cristo é anunciado aos pecadores. Cada um pode dizer por si mesmo: uma pessoa só se converte de verdade quando finalmente entende e se comove pela morte de Cristo na cruz, onde se encontra remissão dos pecados. Como é que você soube dessas coisas? Foi pela pregação, pelo ensino da Palavra de Deus. Por isso Paulo enfatiza aos romanos: “E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?” (Rm 10.14).
Portanto, quando o pregador anuncia o Reino de Cristo, ao mesmo tempo em que o crente é confortado e animado na sua fé, consolado pela esperança do retorno do Salvador, enquanto o crente é EDIFICADO, então, aquele que ainda não foi salvo ouve o Evangelho, entra em contato com as verdades da cruz, conhece as doutrinas da graça. É na hora da pregação da Bíblia que o incrédulo se torna crente. O uso dos dons espirituais, portanto, devem também ser dirigidos para este fim. O pregador tem que escolher as suas palavras no intuito de atingir o coração do pecador. O músico deve escolher as suas músicas no interesse de fazer o Evangelho compreensível para o visitante.
Mas onde é que Paulo ensinou que o uso dos dons deve ser orientado para o visitante também? Nos versos 23 a 25: “Se, pois, toda a igreja se reunir no mesmo lugar, e todos se puserem a falar em outras línguas, no caso de entrarem indoutos ou incrédulos, não dirão, porventura, que estais loucos? Porém, se todos profetizarem, e entrar algum incrédulo ou indouto, é ele por todos convencido e por todos julgado; tornam-se-lhe manifestos os segredos do coração, e assim, prostrando-se com a face em terra, adorará a Deus, testemunhando que Deus está, de fato, no meio de vós.” (14.23-25).
O objetivo, quanto aos visitantes, é que sejam tocados pelo Evangelho, pela exposição profética da Palavra de Deus, e assim, experimentem o novo nascimento. Isso só ocorre quando o visitante vê o poder de Deus através da Bíblia, porque a Bíblia expõe o seu pecado, e expõe a sua culpa, e revela a sua necessidade de um Salvador. Quando o visitante ouve o Evangelho de Cristo, ele é tocado pelo Espírito de Deus, e, então, diz Paulo, prostra-se com a face em terra, adorando a Deus, e testemunhando que Deus está, de fato, no meio dos cristãos. O texto diz que a profecia serve para confrontar o visitante incrédulo e diante disso ele se converte. Por que? (A) por ouvir um adivinhador revelando seus segredos pessoais? ou (B) por ouvir o Evangelho de Cristo, e esse Evangelho expor ao coração do visitante o seu próprio pecado? O que é mais natural se concluir? As pessoas se convertem por que, afinal? O testemunho bíblico é que somos chamados internamente pelo Espírito Santo, quando externamente a Palavra de Deus nos atinge. Isso não tem nada a ver com adivinhação. Não é adivinhação que leva o pecador à salvação.
As fortes emoções provocadas pela ilusão desses pseudoprofetas não são evidência de nada. Até mesmo um humorista de stand up consegue fazer com que seu público se identifique com o que diz no show. Adivinhações não passam de um show mal produzido por um pregador que não tem nada a dizer sobre a Bíblia, e por isso ele faz fofoca pública no meio do culto. Notem que aqueles que se afirmam como profetas na Igreja têm muito pouco pra dizer da Bíblia. Eles precisam fazer revelações porque da Bíblia não entendem. Não nos esqueçamos do que Paulo disse sobre esse ministério: “O que ensina, esmere-se no fazê-lo!” (Rm 12.7). A verdade é que quem tem conhecimento bíblico para levar à Igreja, jamais desperdiçaria o pouco tempo que tem fazendo adivinhações gospel. Assim como, aquele que tem amor e apreço pela Palavra de Deus, quando vem ao culto, não fica admirado com falsos profetas. Quem ama a Palavra de Deus não quer ouvir isso, quer ouvir ensino. Na verdade, ficamos é chateados quando o tempo do culto é dissipado com essa bobagem toda. Quem ama a Escritura Sagrada vem ao culto sedento e desejoso de ouvir a exposição da Escritura.
E o visitante? O não-salvo? O que tem de ser preparado para ele? Show de adivinhações? Não! O Evangelho da Salvação! O dom da profecia, portanto, é a capacidade dada pelo Espírito de Cristo para anunciar fielmente a Palavra de Deus, tanto para a EDIFICAÇÃO dos cristãos como para a EVANGELIZAÇÃO dos pecadores.
A Igreja alcança o propósito do culto cristão
3. ao proclamar o caráter de cristo!
O culto público, o conjunto da obra, é uma mensagem em alto e bom som de quem é o Deus que os cristãos adoram. O culto expressa o caráter do nosso Deus. É dever dos crentes fazer com que a imagem do Senhor Jesus, que é refletida nesse mundo pela Igreja, seja uma imagem gloriosa! O caráter de Cristo é anunciado não só pelo que dizem os seus discípulos, mas também pelo modo como vivem e se comportam nesse mundo, e, também pelo modo como se reúnem, e conduzem as suas reuniões.
O culto público jamais pode ser motivo de vergonha para os crentes. Se ele acontece numa desordem escandalosa, essa vai ser a imagem que se passará do Deus dos cristãos. Não pode ser assim! O caráter de Cristo tem de ser refletido pelo seu povo, como por um espelho. Portanto o povo de Deus, quando se reúne para a adoração, sempre deve prezar por organização, sobriedade, prudência, e moderação. “Porque Deus não é de confusão, e sim de paz.” (14.33). “Tudo, porém, seja feito com decência e ordem.” (14.40). Decência e ordem são características que proclamam o Deus decente e ordeiro a quem cultuamos.
Cristo disse que seríamos zombados e perseguidos pelos incrédulos. Mas a razão da zombaria é o Evangelho, porque nós anunciamos a salvação através de alguém condenado e crucificado pelos romanos. O escárnio vem do Evangelho. Portanto, é vergonhoso e imoral que os crentes sejam amplamente conhecidos por se comportarem como arruaceiros em seus cultos. Se os crentes se comportam como loucos, então a chacota tem razão de ser. O próprio Paulo pergunta: “não dirão, porventura, que estais loucos?” (14.25).
A) O ESPÍRITO DO PROFETA ESTÁ SUJEITO AO PROFETA!
Nesse contexto, o apóstolo Paulo argumenta contra aqueles crentes que justificam o seu comportamento desordeiro no culto colocando a culpa no Espírito Santo. “Ah! Eu fui tomado pelo poder do Espírito, e depois não vi mais nada!” No entanto, segundo a Bíblia, “os espíritos dos profetas estão sujeitos aos próprios profetas.” E por que? “Porque Deus não é de confusão, e sim de paz.” (14.32-33).
A afirmação do autor aqui serve contra aquele que quer responsabilizar o Espírito Santo pela bagunça do culto. Mas o Espírito não domina ninguém. O Espírito Santo não age como um demônio que assume o controle do corpo humano. Pelo contrário, a presença do Espírito de Deus tem de gerar o fruto do Espírito: domínio próprio, autocontrole (Gl 5.23). Quem tem o Espírito não fica dominado, mas é disciplinado, manso, modesto, equilibrado.
Nos nossos dias você encontra pessoas que, na hora do culto, alegadamente, entram em um estado de êxtase espiritual e começam a tremer, rodar, desmaiar, “cair no Espírito”, correr, pular, dançar, etc. Como se não fosse suficiente, desde 1994, se deu início à chamada Bênção de Toronto, originada numa Igreja no Canadá. Nesse evento, as pessoas imitam os sons de animais, como latidos, miados, grunhidos, rugidos, uivos, cacarejos, etc. Caminham como quadrúpedes, relincham, e são conduzidos por outros crentes por meio de coleiras. Recentemente, a famosa cantora Ana Paula Valadão fez a sua performance durante a gravação de um DVD em Brasília, imitando um leão ao engatinhar no palco.
Afinal, como a Bênção de Toronto se harmoniza com 1 Coríntios 14.33? “Porque Deus não é de confusão, e sim de paz.” Onde está a decência? Quando Paulo disse que Deus não é de confusão, e sim de paz, na verdade, era um argumento contra aqueles que alegam ser dominados pelo Espírito Santo, a tal ponto de perderem a consciência. É visível ou não a incoerência? Tudo é contrário ao ensino da Bíblia! O espírito que atua nesses cultos parece não ser o mesmo Espírito que inspirou a redação das cartas de Paulo, onde se diz, por exemplo, que o espírito do profeta está sujeito ao profeta, ou que o fruto do Espírito não é o descontrole, mas o oposto.
Então, por que os crentes fazem isso tudo no culto? Fazem porque não conhecem a Palavra de Deus, e aprendem esse comportamento leviano por imitação. Cegos sendo guiados por cegos.
B) LIBERDADE PARA VER A CRISTO!
Na tentativa, então, de garantir o direito à bagunça e aos improvisos nos cultos públicos, muitos argumentam citando 2 Coríntios 3.17: “Onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade!”. E os que citam esse versículo pretendem afirmar que se o Espírito está no culto, então Ele tem liberdade para agir. Na verdade, esse é o principal fundamento para se justificar um culto desorganizado. No entanto, quem  utiliza esse verso para esse fim, provavelmente nunca leu os versos precedentes, 14 a 16.
Nessa passagem, Paulo não está ensinando sobre o culto, ou sobre o uso dos dons, ou sobre a liberdade do Espírito para conduzir o culto. Não é isso! Segundo o contexto, a interpretação correta é: onde está o Espírito do Senhor, ali há liberdade, portanto, ali houve libertação, libertação da cegueira que impede uma pessoa de ler a Escritura e enxergar a verdade sobre a salvação em Cristo! É essa liberdade! Quando se ouve um pastor dizer isso no culto, para estimular as pessoas à bagunça, certamente devemos nos lembrar disso: “Onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade”, então, não há mais cegueira espiritual, já houve libertação! A liberdade não é do Espírito, mas do pecador. Onde está o Espírito do Senhor, aí há salvação, porque:
  • é o Espírito Santo quem convence do pecado, da justiça, e do juízo;
  • é o Espírito Santo quem salva;
  • o novo nascimento é o nascimento do Espírito.

Quando lemos a Bíblia, não sofremos da cegueira comum a todas as pessoas, porque temos o Espírito de Deus, portanto temos liberdade, fomos libertos. “Onde está o Espírito do Senhor, aí há salvação!”
Infelizmente, é muito fácil deixar que paixões e desejos carnais encontrem na Bíblia argumentação aparentemente válida para justificar o comportamento vergonhoso de que estamos falando. Não é do culto que Paulo fala, e sim da experiência pessoal de salvação.
C) O CARÁTER ORDEIRO DO REDENTOR!
Por que, então, manter a ordem no culto? Porque o culto público proclama o caráter de Cristo: ele não é Deus de confusão, e sim de paz. O culto tem de ser conduzido por nós de modo a espelhar esse Cristo que é descente, ordeiro e pacífico. Devemos nos alegrar nos cultos, mas para ser alegres não precisamos ser indecentes e irreverentes. É perfeitamente possível fazer tudo com decência e ordem. O tema já foi esclarecido por Paulo. A nós cabe somente entender e obedecer.
Somente nesses termos, portanto, é possível EDIFICAR e EVANGELIZAR eficientemente. E só com decência e ordem é possível PROCLAMAR com justiça o verdadeiro caráter de Cristo.
Aquelas Igrejas que abrem mão desses princípios oferecem um desserviço ao Reino de Deus, porque elas:
  • não EDIFICAM seus crentes,
  • não EVANGELIZAM seus visitantes,
  • e o caráter de Deus que elas conseguem proclamar é de um “deus” diferente dAquele revelado na Bíblia Sagrada.

D) O NOVO NASCIMENTO GERA PROCLAMADORES DO EVANGELHO!
“Mas as pessoas tem se convertido! Pecadores estão sendo salvos! Isso, afinal, não deveria servir de evidência de que Deus tem aprovado o culto desorganizado?” 
Pois bem! Há muita gente na Igreja, “convertida”, que não consegue dar uma palavra sobre o Evangelho. Isso é um fato! É óbvio que não são todos, e, se são a maioria ou não, é impossível dizer sem uma pesquisa séria. Mas é visível que tem muito crente por aí que não é capaz de proclamar espontaneamente o Evangelho que o salvou. Para piorar, estes mesmos conseguem compartilhar sobre sua fé, mas falando somente a respeito de vitórias que receberam ou de experiências extraordinárias que vivenciaram. A boca fala do que está cheio o coração. Eu respeito aqueles que no exercício de sua espiritualidade obtêm experiências e vitórias, desde que sua boca esteja cheia do Evangelho, e desde que a importância de sua Vitória esteja anos-luz à frente dessas pequenas vitórias.
Nem toda adesão é uma conversão. Os verdadeiros convertidos não glorificam as suas próprias obras e muito menos os seus méritos. Pelo contrário, glorificam a obra da cruz e o Senhor que se sacrificou por eles. Tem muita gente aderindo à Igreja, mas pouca gente nascendo do Espírito, pouca gente passando pelo novo nascimento. Tem muita gente se emocionando com a palavra de adivinhação de um falso profeta, mas pouca gente se comovendo com a cruz pregada pelos verdadeiros ministros do Evangelho. Podem até me criticar por essa posição (certamente muitos vão), mas uma conversão ao final de um culto em que a cruz de Cristo não foi proclamada não é uma conversão cristã. É IMPOSSÍVEL que alguém tenha se convertido sem ouvir acerca da morte e da ressurreição do nosso Senhor Jesus Cristo, sem que tenha sido confrontado pela Lei de Deus, e chamado ao arrependimento de pecados. Salvação só é verdadeira se é pela fé em Cristo e no sacrifício remidor. Do contrário, não passa de uma adesão à Igreja.
Crentes reunidos desperdiçando todo o tempo do culto com um monte de coisas supérfluas sem dizer nada do Evangelho é a moda das igrejas evangélicas.
CONCLUSÃO
O Senhor Jesus Cristo um dia se sacrificou! Foi torturado e moído! Um dia Ele foi humilhado, e as pessoas que se reuniram em torno dele faziam algazarras. No dia da crucificação, muita gente se reuniu por causa de Cristo, mas não foi para adorá-lo e nem para ouvi-lo. Reuniu-se para fazer bagunça.
No culto público, os cristãos fazem diferente. Reúnem-se em torno de Cristo para ouvir a Sua Palavra. O alvo é ser como Maria, que preferiu a melhor parte. O coração do crente arde pela Escritura Sagrada, pelo ensino, pela doutrina. Isso é a verdadeira profecia. No culto cristão celebra-se reverentemente o nome do Senhor, exalta-se Aquele que foi humilhado, e adora-se com decência e ordem Aquele que foi vítima de uma gritaria própria de gente desordeira. Quem se reuniu em torno de Cristo para fazer algazarra foram os inimigos de Deus. Esse fato deveria ser suficiente para que haja reflexão sobre o modo como tem sido realizado o culto em cada comunidade local!
Que se prefira o jeito que Ele exigiu, sem cedermos às paixões pecaminosas que nos assediam. Que não seja do jeito que nos agrada, mas do modo como Ele requer. Façamos tudo, portanto, segundo a vontade dEle. “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A Ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Rm 11.36).