sábado, 1 de junho de 2013

SECULARIZAÇÃO E ACOMODAÇÃO: Uma Igreja em Declínio



A igreja evangélica no Brasil tem experimentado um momento de grande confusão na sua identidade cristã e na sua tarefa de viver o Evangelho. As razões desse quadro são várias e variadas, contudo, para não prolongar demais, meu objetivo aqui é apontar apenas duas dessas razões: A secularização da igreja e acomodação das Escrituras.

Não é novidade para ninguém que as novidades nos arraiais evangélicos se mostram cada vez mais desejáveis e, porque não, praticáveis a qualquer custo e com status revolucionários. A cada dia experimenta-se um novo conceito teológico, uma nova maneira de interpretar as Escrituras, uma nova “onda” que acaba mudando a vida e comportamento natural da igreja. E tudo isso em virtude da secularização e da acomodação. 

Secularização é a utilização de técnicas seculares para obtenção de resultados espirituais. É um processo de proporções mundiais e não atinge apenas o cristianismo, mas várias religiões. Qualquer religião está sujeita a absorção de elementos externos à sua confessionalidade. 

Ah! É importante aqui fazer menção à diferença entre secularização e secularismo. Secularização é, grosso modo, um processo de absorção de princípios e práticas seculares (alheios ao Evangelho e à Igreja) por parte de seus membros. Geralmente é absorvida e praticada com o fim de obter resultados já confirmados em outras situações. Já o secularismo, é uma filosofia que rejeita toda forma de religião. Um secularista é, portanto, um antirreligioso, enquanto que, um secularizado é um religioso contaminado com o que não lhe é adequado. 

Já que estou definindo alguns termos, passo a definir o que é acomodação. Na teologia este termo ficou conhecido em João Calvino (reformador do séc. XVI) quando este o utilizou para explicar a ação de Deus em tornar sua Palavra acessível ao homem contaminado pelo pecado. Foi a esta possibilidade de acesso que Calvino denominou “acomodação”. Segundo o reformador, só por meio da ação graciosa de Deus o homem poderia ser tocado pelo Espírito Santo a fim de compreender sua revelação especial. 

Bem, tendo definido os termos importantes do texto, passo a descrever como vejo parte da crise vivida pela igreja atual no tocante a sua identidade e sua tarefa: 

A audácia, de fato, tem sido uma das marcas da igreja contemporânea, pois ela tem se tornado um meio para se ultrapassar limites e quebrar paradigmas a muito existentes, inclusive advindos da Reforma Protestante. Como já se sabe, o ser humano é muito criativo, ainda mais quando não se importa com a lei. Assim sendo, ao fazer uso de sua criatividade, não tem se preocupado com o sistema de leis que fora dado por Deus. Aliás, falar de lei na igreja atual tornou-se assunto ofensivo e, portanto, inaceitável (mas isto é assunto para outra hora).

A ausência das Escrituras na formação e execução dos ideais cristãos com certeza representa o maior prejuízo que a igreja tem tido nos últimos tempos. A igreja atual parece estar acostumada aos constrangimentos que tem sofrido em razão de sua postura irreverente diante de Deus e problemática frente à sociedade. A ausência de uma teologia concisa e de um apego sistemático e piedoso com as Escrituras vem deixando-a cada vez mais frágil e, por isso, vulnerável quanto às práticas seculares. Não há uma preocupação com a fiel interpretação da Bíblia e, isto explica o fato de não haver, também, um posicionamento rigoroso que vá de encontro com a secularização eclesiástica. Faz-se necessário um retorno estrutural no qual fique claro que a identidade da igreja está no seu apego às Escrituras.

A mudança estrutural que a igreja precisa não está relacionada aos muitos modelos eclesiásticos de liderança, ou ao aspecto empresarial em que ela tanto se identifica na atualidade, ou ainda ao clima de euforia e extravagância que a tem feito optar por meios tão escusos de se ganhar espaço na mídia em geral. A mudança estrutural aqui sugerida refere-se ao que a igreja atual pensa sobre si mesma. O que ela tem sido, qual o seu verdadeiro propósito, quais são suas funções, qual é a sua origem, a que ela está ligada, o que a sustenta, em que ela deve fundamentar suas escolhas, entre outras.

É verdade que não se pretende aqui ser exaustivo quanto a todos estes pontos, contudo, pretende-se apontar pelo menos os principais motivos e influências que têm feito da igreja um alvo tão fácil de ser atingido pela atual forma de pensamento secularizado. O ponto a ser atingido é a constatação de que a igreja contemporânea não sabe lidar com a sociedade em que está inserida e, por isso, tem sido cada vez mais adulterada de sua forma original. Este quadro me causa preocupação, posto que, não vejo sinais de mudança positiva no mesmo.

Associada a secularização, a prática de acomodação também tem sido um trágico problema na igreja atual. E quem dera se eu estivesse me referindo à acomodação supracitada que fora ensinada por Calvino. A acomodação que se vê nos nossos dias é aquela que, de modo presunçoso, herético e pagão as Escrituras têm sido acomodadas aos projetos humanos. Líderes religiosos (e também membros de igrejas), como que em um movimento em massa, se comprometem com um processo de “reacomodação” da Palavra de Deus. Não contentes com a acomodação graciosa de Deus em nos dar oportunidade de conhecê-lo por sua Palavra, agora se engajam em uma releitura da Bíblia, se valendo de métodos interpretativos subjetivistas e irracionais (que não se sustentam).

Parece-me que, na tentativa de se tornar aceitável e relevante ao homem pós-moderno, a Bíblia tem sido acomodada pelos próprios cristãos, tem sido adaptada às pressões exteriores e ao subjetivismo predominante em nossa geração. Em virtude disso, tem se tornado comum na igreja a adesão a conceitos e costumes seculares que vão de encontro aos conceitos histórico-bíblicos há muito existentes na mesma, resultando em métodos extremistas de evangelização, em comportamentos inadequados em relação à postura do crente no culto e ainda em um afastamento das Escrituras e de seu verdadeiro ensino.

A igreja evangélica brasileira não pode assimilar e assumir essas novas práticas. Ela não pode negociar o conteúdo puro e eficaz das Escrituras em troca da adesão ao conceito pós-moderno que obriga o homem a ser politicamente correto. A única prática de acomodação que, de fato, deve ser aceita por nós é aquela feita pelo próprio Deus, quando em sua imensa misericórdia, acomodou, ou seja, adaptou o conteúdo da sua revelação perfeita a um modelo que possibilitasse a compreensão de todos nós, homens caídos, perdidos e perversos, com o fim de promover a nós a salvação que, de forma alguma, merecíamos.

Diante disso, não podemos em resposta à acomodação maravilhosa que Deus realizou, desprezar a sua bondade. Não podemos tomar a revelação perfeita com o fim de adaptá-la à nossa forma corrupta e imperfeita de viver. Deus não merece rebeldia, mas merece o nosso reconhecimento, o nosso amor, a nossa gratidão, o nosso serviço, a nossa devoção, a nossa fé, a nossa doação e a nossa fidelidade. Pensando nisso, vamos retomar nossa identidade de igreja militante e triunfante, sobretudo entendendo nossa tarefa na grande missão dada à igreja: a de glorificar o nome de Deus em todo tempo, enquanto se vive um cristianismo sob os critérios de Cristo Jesus. Aleluia!