Nessa madrugada, o programa Altas Horas recebeu a presença da universitária Geisy, envolvida no escândalo do “vestido vermelho” na Uniban. A intenção do apresentador do programa parece ter sido levantar a discussão sobre a legitimidade da reação dos alunos daquela instituição, e foi ai que a coisa começou a ficar interessante.
A discussão sobre o que é ou não legítimo na sociedade não é recente nem está concluída. Talvez isso pareça muito filosófico, contudo cada um de nós se depara com inúmeras situações cotidianas, nas quais precisamos legislar sobre o que é certo ou errado. Afinal de contas, quem tem o direito de dar a palavra final nessa discussão? O que segue são quatro possíveis respostas para essa pergunta.
NINGUÉM! Afinal, como alguém poderia ter direitos sobre aquilo que eu decido ou não, fazer? Isso é algo de foro íntimo! Eu tenho o direito de abrir o meu guarda roupas e escolher sair com aquilo que me agrada! E mais! Se eu quiser sair sem nada, totalmente nua! Quem pode me julgar? As pessoas são livres para fazer aquilo que querem!
Essa é uma possível resposta, contudo ela não abre margem para protestos, pois se todos tem o direito de agir da maneira que bem entendem, fica patente que qualquer um pode REAGIR, como pensar ser mais conveniente. E se diante de um vestido curto, eu decido dar vazão aos meus desejos sexuais, quem é que pode me recriminar? A discussão então caminha para a necessidade de um legislador externo para averiguar se os desejos são legítimos ou não. Esse pensamento abre a possibilidade para uma segunda possível resposta ao questionamento sobre quem tem o direito de ditar as regras.
O ESTADO! Somente o Estado tem o poder de legislar e usar a força numa sociedade civilizada. Se as leis do Brasil permitem que eu me vista da maneira que eu quero qual é o problema? O problema é que o estadista também pode legislar em causa própria, legitimando atitudes criminosas e promovendo a desigualdade social. Além disso, existe uma distância muito grande entre a velocidade em que as relações humanas se dão, e a capacidade que o Estado tem de julgá-las. Nesse sentido o poder deveria estar mais próximo do povo, de maneira que todos, ou pelo menos a maioria, pudessem decidir. Essa é outra possível resposta para a grande questão de quem pode ditar as regras.
A MAIORIA! O maravilhoso conceito de democracia limita o poder totalitário do legislador estadista, ao mesmo tempo, que permite que existam regras e que elas sejam elaboradas de maneira que os direitos da maior parte das pessoas sejam respeitados. Só tem o pequeno problema: quando a maioria dos alunos de uma universidade deseja atacar uma estudante, não significa necessariamente que por estarem em maior número, eles tem o direito de passar por cima da integridade de uma única pessoa. A voz do povo não é a voz de Deus, e por conseqüência não está sempre certa. Ops! Deus, será que poderíamos atribuir a Deus o direito de ditar as regras?
DEUS! Imagine uma consciência que estivesse acima do bem e do mal. Que não se deixasse levar por interesses econômicos, pois é o criador do ouro e da prata! Alguém que tivesse a capacidade de penetrar os pensamentos, sondando até o mais íntimo do subconsciente humano. Como alguém poderia enganá-lo ou até mesmo ignorá-lo? Ele não teria problemas com a quantidade de processos para julgar, isso porque está em todo lugar o tempo todo. E seu veredicto poderia ser conhecido até mesmo antes do fato problemático. Mas existe um problema no fato de Deus ser quem dita as regras: como conhecer a vontade de Deus!
Creio que o problema da moral humana não pode ser resolvido a partir de outra perspectiva, senão a divina. O conceito que as pessoas têm de Deus, seja ele, bem elaborado ou não, determina a maneira como elas se comportam diante das questões morais da vida. A discussão mais urgente hoje, não é sobre este ou aquele vestido, mas sim, se Deus pode ou não ser conhecido! A partir dessa constatação depende todo julgamento humano. Inclusive a moda!